2° Ano de reativação da AMACAUASSU
2° Ano de reativação da AMACAUASSU
Uma longa caminhada inicia-se com o primeiro passo: uma reflexão sobre os dois anos de reativação da AMACAUASSU. “Cada promessa é uma ameaça, cada perda, um encontro. Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas. Os sonhos anunciam outra realidade possível, e os delírios, outra razão. (...) Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos”. (Eduardo Galeano – O livro dos abraços)No ano passado, quando desafiada a escrever um texto sobre o primeiro ano de reativação da Associação de Moradores e Amigos do Cauassu – AMACAUASSU para esse jornal, dizia, ao concluir meu pensamento, que aquele primeiro ano poderia ser caracterizado pela palavra “superação”. Pois bem, nesse segundo aniversário, e agora ainda mais convicta que escrevi naquele dia, acrescentaria mais três palavras: PERSEVERANÇA, UNIÃO e TRANSFORMAÇÃO.Essas três palavras, sem medo de cometer incoerência, traduzem esse segundo ano de nossa Associação. Por isso a escolha do pensamento acima do escritor uruguaio, Eduardo Galeano, ao iniciar minha reflexão tanto em relação aos dois primeiros anos de reativação, quanto de minha atuação enquanto primeira presidente dessa nova fase da instituição.Assim como Galeano e tantas outras pessoas, acredito que os sonhos sonhados no coletivo podem tornar-se realidade, e para tanto a união é combustível mais do que necessário e a Associação contém esse ingrediente em sua fórmula de existir.Nossa união não significa dizer que todos nós pensemos iguais em relação a tudo. Pelo contrário, foi em meio aos conflitos das ideias e posicionamentos que mostramos sermos unidos, pois tivemos a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro e embora por algumas vezes insatisfeitos (as), soubemos respeitar as decisões coletivas.Outro ponto que desejo reforçar hoje é que o maior patrimônio da AMACAUASSU são os homens e mulheres simples, dotados (as) de um profundo desejo de “ser mais” que fazem essa Associação. Desejo de doarem-se em busca de bens coletivos, apesar do cansaço da longa carga horária de trabalho que enfrentam cotidianamente a fim de adquirirem o pão de cada dia, e não só. Homens e mulheres que apesar da labuta para educarem e vestirem seus filhos e filhas, suas lutas individuais, manifestam uma força enorme para batalharem VOLUNTARIAMENTE pelo todo.Essas pessoas sim podem ser consideradas os (as) verdadeiros (as) heróis e heroínas de nossa realidade. Entretanto, por muitas vezes, não são compreendidos (as) e nem tem seu trabalho reconhecido por seus próprios familiares, amigos, e principalmente, por alguns funcionários e autoridades públicas.Essas últimas fazem questão de menosprezá-los (as) em reuniões e/ou situações públicas, ou seja, nessas situações de “platéia”. Preferem, na grande maioria das vezes, salvo raríssimas exceções, reverenciar e agradecer a presença de seus pares, que ao contrário desses homens e mulheres, têm obrigação de comparecerem ao evento, já que pagos com o dinheiro público, ou o que considero pior ainda, preferem citar por mais de uma vez (para que o povo não esqueça) o nome de seus “cabos eleitorais”, que também, ao contrário dessas pessoas, também são pagos para “trabalharem” na comunidade.E poderiam me perguntar: o que tem isso de extraordinário? Responderia sem titubear, que nem sempre o simples é sinônimo de simplório, e que por assim ser, ele pode tornar-se extraordinário, a depender do ponto de vista que seja analisado. E em meu humilde ponto de vista, a AMACAUASSU quando, com todas suas limitações, esteve presente em eventos, lugares e/ou situações - encontros, assembléias, fóruns, reuniões, audiências, conselhos, jornais - e OUSOU FALAR em nome do bem coletivo, deixando de lado interesses individuais ou eleitoreiros, tão comuns no passado e nos dias atuais do nosso município, conseguiu fazer a transformação do simples em extraordinário. Tal atitude configura-se como incomum tanto a outras formas organizativas semelhantes a nossa, como outras instituições e poderes. O município sofre de uma homogeneidade de pensamento e ações, que chega a ser prejudicial à tão conclamada cidadania e ao próprio exercício da democracia.Já em relação aos principais aprendizados que obtive enquanto presidente da AMACAUASSU nesses dois anos, elegi falar sobre o exercício que tive que fazer em relação à vivência da impessoalidade e ao mesmo tempo da gestão colegiada.Recordo-me bem de uma situação que me proporcionou um aprendizado que levarei para minha vida toda. Certo dia, no calor das 12:00h, chega a minha casa uma de nossas associadas que teve negado o recebimento de um ofício da AMACAUASSU assinado por mim, e que após ter ouvido uma série de desaforos da pessoa que se negou a recebê-lo, veio narrar o fato.Enquanto ela descrevia os detalhes eu pensava: “vou lá agora e responder a altura. Isso não se faz!” Só que ao mesmo tempo vinha a minha memória minha responsabilidade, meu compromisso, as pessoas que depositaram toda sua confiança em mim para representá-las; que sozinha não era a Associação e, sobretudo, que aquela situação não cabia apenas à Eliábia e, portanto, deveria ser partilhada e solucionada coletivamente, sem minhas paixões ou sentimentos pessoais.Ao negar o recebimento de um ofício da Associação a pessoa desrespeitava a instituição como um todo, e não apenas a mim, e o pior, com aquela atitude também demonstrava sua fragilidade em representar uma instituição pública.Em meu íntimo refleti: “sou a presidente da AMACAUASSU e o que fizer será remetida a imagem dela.” Quando ela concluiu o relato sentei-me diante de meu computador e imediatamente digitei uma convocação para uma reunião extraordinária com a Diretoria e o Conselho Fiscal. Durante a noite nos reunimos e acatamos uma decisão coletiva: convocaríamos uma reunião da Diretoria com os responsáveis pela instituição (e não uma pessoa somente) causadora do evento e pronto.O aprendizado da impessoalidade, tão negado em nossa cultura clientelista tem sido um desafio e tenho consciência do quanto tentei e tento vivenciá-lo. Embora possuirmos nossas individualidades, já que somos seres humanos únicos, aqui somos muitos em um só: a AMACAUASSU. É essa união que nos faz fortes para enfrentarmos os desafios que nos são impostos.Foi esse aprendizado que me permitiu ter discernimento para perceber quando as decisões cabiam a “Eliábia”: mulher, esposa, mãe, estudante, trabalhadora, professora, eleitora, moradora do Cauassu, associada da AMACAUASSU, etc, e quando as deliberações exigiam um posicionamento da PRESIDENTE DA AMACAUASSU, embora eu sendo um pouco de tudo isso que mencionei aqui.A gestão de um líder que se propõem dialógico, em qualquer que seja a instância, deve ser regada por outras falas que não a sua, exige uma reflexão coletiva, partilhada, deve respeitar outras vontades e o mais importante, resultar em um bem coletivo para a humanidade, para a natureza, para a vida comum.Uma palavra final? Eu não teria. Desejo deixar apenas uma palavra que antecipa as reticências: OBRIGADA!Obrigada aos meus companheiros e companheiras de diretoria, conselheiros e conselheiras fiscais, associados e associadas de uma forma geral, colaboradores da AMACAUASSU, minha família, amigos (as), pela confiança em mim depositada e pela colaboração em todas as ações efetivadas e iniciadas. Eu nada teria conseguido sem a cooperação de cada um de vocês.Não poderia também de nesse momento tão importante deixar de agradecer aquelas pessoas que duvidaram e continuam a duvidar de meus interesses quando estive a frente do movimento de reativação da AMACAUASSU, e especialmente, quando fui eleita para a presidência da instituição. No entanto, o agradecimento especial vai para o autor ou autora, ou grupo de autores e/ou autoras daquele bilhete anônimo e covarde que chegou as nossas mãos no inicio de nossa caminhada.Recordo-me de um dos trechos que dizia: “pessoas como a Eliábia que diz ser tão esclarecida, são as primeiras a não saber o que fazem e o que dizem. Querem ganhar fama jogando o nome dos outros na lama [...] provavelmente tem interesse político por aí.”Como lamento tê-lo (a) decepcionado (a) em suas expectativas. Naquele dia e, sobretudo hoje, só tenho a agradecer, pois esse bilhete foi a prova de que estávamos no caminho certo. A AMACAUASSU desde seu renascimento já incomodava quem só pensa em seu “umbigo”, em quem só pensa em tirar vantagem em tudo que faz, inclusive vantagem financeira, e que por muitas vezes se fantasiam para o povo de cordeiros, quando na verdade são lobos perigosíssimos, como dizem as palavras bíblicas.De suas dúvidas meu (minha) caro (a) fiz as minhas certezas e venci. Espero sinceramente que espelhando-se em minhas ações nesses dois anos, essa ou essas pessoas tenham criado pelo menos coragem para defender suas ideias publicamente, sem ter que se esconder através do anonimato. Isso é no mínimo ridículo.Concluído os agradecimentos, fiquemos com a crença de que essa nova gestão além de compartilhar com muitos desses pensamentos aqui descritos, também acredita que sozinhos não chegaremos a lugar nenhum, e que para tanto conta com a ajuda de cada um de nós.Seja bem vindo presidente. A AMACAUASSU está com você! Eliábia de Abreu Gomes Barbosa é pedagoga e mestranda em Educação Brasileira pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará - UFC . Vinculada a Linha de Pesquisa, Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola – Eixo: Educação de Jovens e Adultos, Dinâmicas Sociais no Campo e na Cidade e Políticas Públicas; pesquisadora do grupo de estudos do CNPq, Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola e do Núcleo de Referência em Educação de Jovens e Adultos do Ceará- História e Memória - NEJAHM; integrante da coordenação colegiada do Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Ceará – FEJA-CE e da Comissão Estadual de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos do Ceará; conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Eusébio – COMDIM; membro da Comissão de Defesa do Direito à Educação do Ceará e atualmente 2ª tesoureira da AMACAUASSU. E-mail: eliabiadaniel@yahoo.com.br